segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Condições

Condições explícitas me impões
Sendo que nada sabes do me me compõe
Vês apenas pedaços de mim
Recortes do que ouso mostrar
Na verdade sou mais que o tudo
Que possas um dia imaginar...


Não ouse me subestimar
Assim como respeito tuas formas
Desejo que respeite as minhas
Mesmo que estejamos ainda a crescer e aprender com a vida.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rouquidão

Estou rouca dos sentires
...dos porquês e dos poréns.
Estou rouca dos pensares
...dos serás e dos talvez.
Estou rouca dos sentidos
...dos vereis e dos dirás.

Rouca simplesmente.
Quase louca.
Tentando parar de te desejar.
Querendo não querer ir te encontrar.
E eu sei que poderia esperar quase uma eternidade.
Rouca eu fico de sussurrar teu nome que o corpo não posso tocar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Vontades

Vontade correr e saber
De voltar e contar
Pra meu corpo acalmar
E parar de tremer

Tenho sede de viver
Um quê mais que já nem sei
Já me perdi no que pensei
Quero mesmo é prever

Já tentei te alcançar
Desse pote bebi
Nunca me saciei
Tenho mais pra provar?

Dos mistérios velados
Nesse teu olhar marcando
A minha pele entalhando
Mesmo de braços afastados

Que dirá este amanhã
Nesta fruta me acabar
Os meus dias terminar
Sem comer toda a maçã.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

'Poeamados'

Aquela dúvida. Estava ali. Todos os poemas picotados no chão e as fotos molhadas por lágrimas. A porta trancada e as malas na porta aguardando. O aquário em cima da mesa e a Calopsita vagueando pelo sofá – como se pudesse sentir meu tormento. Todos os dias que passamos juntos estavam se mostrando entre as paredes, de forma holográfica e torturante.
O que eu podia fazer a não ser deixar-se ir todo o meu amor? Não poderia segurar você entre meus braços e implorar. Não acredito nisso. Se deixou de ser bom, de me amar, de ser completamente meu... Então ir é o melhor a se fazer.
A geladeira ainda tem o bilhete do dia dos namorados. Te amo tanto que esqueço de respirar nos intervalos...um dia morro por sentir-te tanto em mim. Sei que vou morrer feliz se for assim. Inferno, calvário, dor. Meus pedaços estão junto dos poemas, das fotos, das cartas, e por mais que eu chore não vou desaguar você de mim.
A parede, meio-pintada de branco e meio de azul indica que algo ficou pela metade, inconcluído, perdido no tempo e no espaço destes tijolos empilhados que eram prova e testemunha de tudo o que dizíamos, sentíamos e fazíamos. Onde foi que ficamos? Onde foi parar nossos olhares longos e reluzentes que iluminavam um dia cinza ao entardecer? Para onde se escoaram todas as conversas longas em que tecíamos teorias sobre todas as coisas – tangíveis e intangíveis?
Eu sinto o silêncio cortando-me a pele tão fundo que não sei se vou conseguir pronunciar alguma palavra quando a porta fechar-se novamente e as malas não estiverem mais ali. Talvez eu emudeça pra sempre e vire uma lenda contada pelas mães que querem avisar suas filhas em como se entregar ao amor é perigoso.
Não me arrependo de ter vivido. Apesar das críticas e de falarem que não combinávamos tanto assim. É cedo, esperem mais tempo. Não esperamos e foi bom cada minuto, mesmo os que muito tempo depois começaram a ser profanados por silêncios constrangedores pós-briga. Mas compensávamos com um sexo quente e gostoso, saboreado.
Só que há mais coisas do que o sexo pode complementar. E elas foram tornando-se mais assunto do que todos os nossos sonhos juntos. Fomos distanciando-nos um do outro e de nosso ponto em comum. Inter-mutações e extra-sensações não mais compatíveis. E um fim que foi se mostrando maior. Como se ele já estivesse lá, marcado com um ‘X’ no chão e nós que fôssemos nos aproximando dele aos poucos. E eis aqui o nosso ponto final. Não há espaço para vírgulas ou reticências e nunca fomos dados a isso. Nosso tudo ou nada: foi poesia enquanto durou e ficou o branco da frase que perdeu a rima e a cor.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Da dúvida...

Antagônicos
Os pensares
Dissimulados
Os olhares
Até onde a visão
Há de alcançar:
Ainda há...
Sem querer
O desejar
Dos lábios teus.
Será loucura,
Ou ilusão?
Uma miragem...
Pra enganar
Minha razão.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A decisão

Era um dia frio e eu esperava que a chuva parasse para atravessar a rua em direção á sua casa e finalmente dizer tudo. Tudo aquilo que meu coração transbordava e eu não transformava em palavras por medo, mágoa e protelação de ser feliz. Fiquei olhando pela janela enquanto as folhas de jornal do vizinho voavam pelo meio da rua, enquanto a vizinha do lado saía com as filhas no carro azul-calcinha e enquanto eu molhava minha blusa vermelho-paixão. E eis que a chuva pára e meu coração dispara: - É agora, pensei.
Saí correndo e quando havia atravessado pela porta que eu abri num solavanco voltei, olhei no espelho, limpei o rímel um pouco borrado no canto do olho, passei um batom rosa-bebê e segui, confiante e ansiosa, para dizer-lhe o que minhas palavras já não sabiam mais compor em definição. Que você é muito mais do que um dia imaginei que iria encontrar caminhando sobre este solo.
Atravesso a rua e tenho paciência para esperar o carro branco que vagarosamente passa por mim. Eu olho a sua janela e ela está aberta. Tudo indica que você estará em casa. Estou à sua porta – você consegue escutar meu coração batendo mais que bateria de escola de samba? Eu estremeço e aperto a campainha. Então ouço passos e a maçaneta vira enquanto o chaveiro de sininhos chineses que lhe dei soa com o movimentar das chaves. Eu sorrio na espera do seu rosto mas qual não é a minha surpresa quando vejo uma das mulheres mais belas que nem em capa de revista eu vi. Ela me olha e eu estou muda, travada e confusa. Como não havia a visto chegar? Quem era e o que estava, exatamente fazendo ali? Meu coração dói. E são tantas as questões e variáveis que não agüento e abro a boca: - Olá, quem é você? Ela sorri angelicalmente e com os seus lábios rosa-pink me diz: - Sou prima dele. Estou aqui porque moro perto e ele não está bem. Minha tia me pediu pra vir.
Eu tenho vontade de dizer muita coisa... e silencio. Então pergunto: - O que ele tem? A moça digna de passarelas me responde: - Ele não anda tomando os remédios pro coração. Mas chamei a ambulância e ele vai pro hospital. Você é a namorada dele?
Como eu queria poder responder que sim, que depois de alguns meses juntos e questionando o que você me escondia, porque fazia tanto mistério sobre as suas coisas, porque me mantinha tão à distância eu resolvi aceitar viver esse amor sem ficar pedindo sempre mais. Mas pelo jeito agora eu fiquei sabendo, sem querer e num mau momento, os reais motivos para tudo o que eu reclamava.Foi um filme que passou na minha mente e eu vi todos os bons momentos sempre sendo estragados pela minha necessidade de controlar tudo. Em vez de viver tudo aquilo, em vez de ser toda pra você e aproveitar (os arrepios, os beijos, os carinhos, os abraços e olhares) eu fui egoísta e só pensei em mim e no meu medo de lhe perder. E então eu joguei tudo fora, inclusive você.
- Não.
- Ah, é que ele avisou que ela viria e imaginei que bem... Quer falar com ele rapidinho?
Em pedaços eu disse que não, obrigada. Tarde demais para dizer que eu me arrependo e que eu amo você tanto que me contentaria com um olhar e um sorriso olhando nos meus olhos. É bem pior do que eu imaginei nas pré-visualizações deste momento. Não tenho mais você e acabei de perder parte de mim.
Quanto tempo vou levar para esquecer que meu coração está partido e o seu está doente? Quanto tempo vou levar para me permitir seguir sem olhar todas as manhãs para a sua casa e ver o ‘vende-se’ na placa verde-abacate da imobiliária da esquina?
Quanto tempo tem o tempo quando a gente está se esvaindo junto com os arrependimentos e as palavras não-ditas e engasgadas? Uma eternidade eu digo.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Medo

Tenho medo do nada
do vazio
do vácuo
da fresta
da fenda
do espaço
que há em mim:
quando há tempo...
e não há resposta.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aprendizados...

Pois eis que a vida traça seus mais maliciosos planos e me derruba de meu pedestal. Achava-me completamente segura entre as imagens antes endeusadas, mas não, eis que vem o próprio céu em forma de gente e me deixa caída ao chão. Como se eu tivesse de ver de outro ângulo a vida, as pessoas e o próprio existir. Foi tão fácil subir lá, guiada pelas mãos que hoje se ausentam de minha visão e meu tato, como se eu merecesse realmente estar ali - engessada e bela, simplesmente "pairando" no tempo e espaço. Quem me dera ter antes percebido, que de malícias a vida só tem a aparência, e que devo a ela me entregar sem receios para poder então compreendê-la. Não há um ponto, são muitas e muitas vírgulas e reticências a se desenhar enquanto transitamos pelos caminhos feitos nas escolhas diárias. Eu poderia ter ficado para sempre ali, segura e em êxtase, mas dali que ensinamentos iria eu tirar? É nas dores da vida que a gente aprende realmente a amar e deixar-se amar, aprende a aprender o que é realmente estar vivo e vivendo - e com o coração pulsando e por vezes despedaçado. Ninguém me disse que seria fácil, tampouco peço que agora me afirmem algo, apenas pensei que aprenderia com mais facilidade e que talvez não fossem necessárias tantas lembranças de que sou feita desta carne-e-sangue, pois quando sou cortada sinto dor e sangra. Porém aprendi que a gente deve deixar sangrar o quanto tiver de ser porque se tentamos estancar "enganando" a ferida ela certamente irá infeccionar, vai doer mais e vai ser pior. Dessa vida que vivo quero mesmo é me entregar mesmo e depois de aprendidas as lições que eu possa compartilhar algumas com aqueles ao meu redor, mesmo que elas sejam apenas um pedaço desfigurado de suas lições, que seja útil aquilo que aprendi para os que estiverem por perto (ou distante) - que a minha dor não seja só por mim. E juro que muitas das vezes eu queria pegar as dores dos outros pra viver só para não vê-los sofrer. Acontece que cada um tem suas próprias dores e prazeres e devem ser vividos particularmente, eu só posso ser a mão que afaga, o ombro que suporta parte do peso e os olhos que compreendem e acompanham. Assim como tenho de viver meus próprios fatos e me permitir experimentar todas as emoções que me forem possíveis, mesmo que por pouco tempo. Não importa o tempo que vou percorrer uma montanha de um vale a outro e sim o que eu vou viver e aprender pelo caminho.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Diga mais ao mundo hoje, baby

Diga que você não pode mudar o curso de suas escolhas, que já está tudo marcado, que as cartas já foram dadas... e fica esta sensação de estar seguindo o caminho certo, o coração batendo forte e o olhar a acompanhar as nuvens que passam pelo céu em dourado e azul. Você pode tentar desviar mas vai estar ali, aquela porta ainda vai estar aberta pra você. Porque há planos que devem ser seguidos até o fim, há escolhas que devem ser feitas por sanidade e por vontade de viver algo mais. Viver algo que te desperte todas as manhãs com um sorriso no rosto e o olhar brilhando. O coração pulsante de felicidade e uma vontade louca de abraçar o mundo. Vocês ouvem esta música? Vocês sentem este cheiro no ar? Vocês escutam seus corações sorrindo?
Não deixe que esta história seja mais uma a ser escrita e ficar pela metade enquanto o cinza toma conta do horizonte e a chuva apaga os rastros do que poderia continuar a ser, se quiser...
Então poderemos, mesmo que amanhã não seja mais, olhar tudo o que foi escrito e sorrir.
É, eu vivi... intensamente... eu ainda estou aqui e minha memória vai sempre me trazer os sorrisos enquanto traço os próximos traços.

terça-feira, 21 de julho de 2009

V!

Velozes os vôos
Visíveis os véus
Vagarosos vestígios
Velaram... e vi!

Você vagou
Viajarei vazia
Ventanias verei
Voltando em vão...

Vá e viva!
Voltas volver
Vazio a voltar
Vontade de voar... [pra bem longe daqui]

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Love...

Love is a change game...it’s a mystery or a mistake?
Amor é entrega e renúncia, você se entrega, mergulha e renuncia aos seus medos pessoais de fracasso (já que eles sempre nos acompanham mesmo). Pois não há como amar de fato achando que na próxima esquina você vai estragar tudo por ser você de verdade. Acho que temos de ser quem somos pois o amor é aceitação: olhamos para o outro tendo a consciência de quem esta pessoa é de fato e de seus defeitos e qualidades e a aceitamos integralmente.
Mas tem uma parte que é difícil, não ter expectativas...sim pois ficar com a cabeça no futuro tira o aproveitamento dos momentos presentes que é o que devemos nos ater. Temos de viver esse agora, esse hoje que é todo nosso e deixar o amanhã pra amanhã. Sem pressão... apenas deixando acontecer. Se vai ser bom a amanhã? Que importa? Não está sendo bom hoje? ...
É, todos temos nossos sonhos, construímos nossos castelos mentais e presumimos todo um desenrolar dos fatos, mas isso só acontece quando deixamos as coisas seguirem seus curso, seu fluxo e tudo, no fim, acaba se encaixando. Mesmo que a gente não entenda de súbito, depois a gente acaba entendendo. A vida nos confunde e tempos mais tarde nos mostra a explicação.
Acho que podemos nos arrepender de não ter deixado as coisas acontecerem, de não ter vivido, não ter tentado e ter sido escravo do medo. Mas quanto a viver, disso não pode haver arrependimentos...pois se tentou, houve um movimento e algo disso a gente sempre leva com a gente – mesmo que inicialmente só a dor lascinante da perda.
Fico me perguntando, por que falamos tanto de amor? É que amor é combustível para as combustões da vida e suas conseqüências. O amor ou a falta dele nos motivam a falar, escrever, cantar, sonhar, agir, chorar, ler, procurar, observar... Quantas vezes amaremos alguém? Poucas, muitas, quem sabe? Mas o que sei é que há pessoas que a gente ama com toda a alma e todo o corpo, que nos despertam sensações tão únicas que vamos ao inferno por elas. E vale a pena...como vale! Melhor que isso é se é retribuído e a pessoa te diz que te quer, que te ama e que vai sofrer se você partir...ah! porque tão bom quanto amar é saber que é amado.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Precipitações

A gente pressupõe demais em nossas vidas: idéias, sentimentos, fatos, pessoas. E tudo é pré-concebido de forma completamnete destorcida pela nossa mente ávida de explicações que as deixem menos confusa, mais no controle e conseqüentemente não nos sintamos tão desprotegidos frente ao futuro e aos acontecimentos que, por dependerem mais dos outros do que de nós mesmos, não temos o menor controle.
E dessa forma metemos "os pés pelas mãos", por sermos ansiosos e atrapalhados interpretando de maneira particular fatos "públicos". Quando, tempo depois, percebemos algo completamente fora do "esquadro mental" que tínhamos montado tão dedicadamente - perdendo tempo de fazer tantas outras coisas que mereciam nossa atenção - há uma interjeição no espanto e a real noção de perda de tempo.
Quantas "voltas" desnecessárias fazemos dentro de nós buscando externamente as explicações possíveis e prováveis em vez de vivermos o que está a frente de nossos olhos neste exato momento? Vai adiantar de alguma forma estarmos preparados para o momento errado? Como se assim fôssemos de roupa de mergulho para esquiar na neve ou de chinelos para uma trilha no meio da floresta. Porque ás vezes vamos totalmente preparados, sentimentalmente e com argumentos "montados", sendo que não era nada daquilo que imaginávamos o sucedido. De qualquer forma seremos pegos despreparados...
Por que então simplesmente não vivemos o momento enquanto o temos e estamos presentes nele? Se pré-ocupar em "construir" algo que no final das contas vai ser inútil é uma total perda de tempo... apesar de sentirmos sempre a necessidade de ter algo abaixo de nossos pés (nos sustentando) mesmo que falso.
E o próprio tempo não são momentos que se antecedem e sucedem?

domingo, 28 de junho de 2009

Conflitos

Quem não estava não viu
Que aquela dor sumiu.
Aquele relance fatal
E muita coisa se esvai.
Uma multidão de ignoráveis
Todos seguindo...
Os mesmos passos dados
Ontem e anteontem e mais.
Quem não participou
Não sabe como foi
Não viu o esforço
Pra voz não se calar
Pra encontrar uma brecha
Entre aquele batalhão
Fugir? não.
Queremos mesmo é lutar!
Não com armas
Com palavras
Com valores
Com ideais
E se houver sangue
Que seja somente
Aquele que pulsa em nós.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Declarada...

É fugaz este teu jeito,
Me deixa zonza de prazer.
É perpétuo este teu toque...
Que me faz enlouquecer.
Tão singelo teu olhar
E único e singular
Que eu poderia me perder.
Espairecer? Pra quê?
Qual a graça assim...
De um mundo sem tesão
E palavras sem vontade.
Quero mesmo é ação
Nesse meu mundo particular
Em que escolhi você,
Só você...pra participar.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Memória

O que penso hoje
Já não é o que pensava.
E que pensei?
Nem eu mesma sei...
Tantos poréns pelo espaço,
Entre os círculos que laço,
Nessas minhas teorias
Revertidas em rabiscos.
Meus desenhos são mentais,
Para distrair os neurônios
Que só querem esquecer...
Dos erros peneiro as lições
E acertos não somam dez
Quer que conte outra vez?
Deixa eu tentar me lembrar...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Acomodação

Era um destino fatal o dela. Tinha que seguir seus instintos e deixar-se viver entre os leões daquela floresta particular e como não havia muita escolha se quedou ali para tentar ganhar forças e lutar contra. Amanheceu cedo naquele domingo de outono e resolveu pôr leite pra ferver e fazer um chocolate quente, não muito tempo depois ele resolveu acordar também. Fingiu que não o tinha visto e foi pra rua, debaixo de sua árvore preferida, com seu livro da vez e a xícara na mão. Entre os pensamentos uma vontade louca de falar tudo o que pensava e que fingiu não sentir. Fingia bem. O sol aquecia suas pernas enquanto à sombra da árvore se fixava no ponto mais azul do horizonte e desejava tudo aquilo novamente: as pernas tremerem, o coração disparar, a boca secar e sentir os pés pisando nuvens. Foi quando ele chegou perto e abaixou-se. Olharam-se longamente e enquanto o vento fazia as roupas no varal quase voarem pelo pátio verde um papel saiu em liberdade de dentro do livro. Ela embranqueceu e ele foi atrás. Pegou o papel marcado de dobras e do tempo e abriu. Seus olhos passavam pela folha e enchiam-se de água. Ela fechou os olhos...não queria ver a decepção instalando-se lentamente naquele coração já tão machucado. Ele voltou com o papel dobrado e estendeu a mão. Ela pegou. Ele chorava. Nenhuma palavra era necessária naquele momento. Agora sabia que não tinha um filho. Uma paternidade perdida como as escolhas que fez e os carinhos que não deu. Uma voz doída dentro do peito que queria sair, mas ela não tinha dito até agora que queria partir. Apensas dois estranhos que continuavam a conviver por falta de coragem pra continuar e pavor de pedir perdão...

sábado, 20 de junho de 2009

Identidade

Sou aquela que RI: com a vida, com as pessoas, de mim mesma, dos problemas, dos limites; que CHORA: com as pessoas, sozinha, no cinema, na propaganda, na rua, no ônibus, no momento em que as lágrimas surgem; que LÊ: na cama, ônibus, trem, sofá, consultório, sozinha, com alguém, para alguém, em pé; que CANTA: no chuveiro, na rua, no ônibus, na cozinha, na sala, na cama, no palco, música boa, música ruim, música que fiz, música que não conheço, música de improviso, engraçada, quando quero; que DANÇA: na chuva, na frente do espelho, em cima da cama, no palco, na danceteria, no bar, no pub, no banho, na parada, na imaginação; que ESCREVE: qualquer coisa, poema, crônica, rascunho, história, projeto, sonho, dedicatória, mensagem, frase, declaração de amor, detalhado, pela metade, fantasia, realidade, protesto, sem pensar, reflexões, medos, convicções, na hora que quer, no ônibus, na cama, no parque, na festa, no caderno, na propaganda, no jornal, no guardanapo, na agenda, no bloco, com lápis, caneta, lápis de cor, giz de cera, com guache, na tela; que AMA: a vida, a filosofia, a natureza, as pessoas, a família, os amigos, os animais, o amor, o livre arbítrio, música, ler, conversar, passear, aprender, compartilhar; que ODEIA: hipocrisia, falsidade, mentira, indecisão, traição, egoísmo, politicagem, egocentrismo, discriminação, preconceito, precipitação, subestimação, estagnação, rotina, padrões, enrolação, teoria excessiva; que BRINCA: com criança, como criança, de criança, em qualquer hora, em casa, na rua, no restaurante, no trabalho, no bar; que CORRE: com a vida, com os lobos, pros amigos, das pessoas, de resmungos, do pessimismo, para o abraço, de medo, pra pegar o ônibus, pra alçar vôo, porque quer, por puro exercício; que CAI: e chora, ri, rola, levanta, pede colo e sacode a poeira; que SONHA: acordada, dormindo, no ônibus, em pé, caminhando, lendo um livro, vendo um filme, vendo a vida, com as pessoas, por puro prazer.
Que procura, encontra, perde, chora e compreende; escolhe, pede conselho, sai pela tangente, pega o rumo; sofre, sofre demais e de menos, porque lembra, porque esqueceu; admira a paisagem, as pessoas, o momento, o que tem; pula, pula em cima, na rua, na poça, nos degraus, na cama; pede, exige, quer, gostaria, promete, diz, sussurra, grita, fica quieta, fala com o olhar, fala com os gestos, estabelece códigos; sente, demonstra, observa, se contém, cativa, seduz, declara, tem ética, espera; fica nervosa, confusa, pensa, repensa, se acalma, fica zen, mantém o sorriso do olhar; quer ajudar, soluciona, doa, se dedica, aprende pra ensinar, liga os pontos, conta tudo, guarda pra si; não reclama, dá risada, franze a testa, mexe o nariz, imita bicho, imita vozes, cria personagens loucos, fala besteira, fala sério, interpreta, conta piada, escuta com atenção, dialoga com as mãos, se perde nos “parêntesis” da conversa, cria, inventa teoria, entende o motivo, procura não julgar, não gosta de fofoca; reza, reza pra si e pros outros, todo o dia, em qualquer hora, por muitos motivos, porque confia, porque tem fé; dorme até tarde, telefona, convida, acompanha, serve, jura, carrega no colo, quer colo, faz pirueta, vira cambalhota, é palhaça, faz torcida, joga futebol, participa, emburra, se faz de desentendida, mergulha, tem medo, anseia, fala pelos cotovelos; adora mar, lagartear no sol, correr na areia; come muito, não come, come devagar, bebe refrigerante, não bebe álcool, não fuma, dá exemplo, se preocupa, volta atrás, não dá “o braço a torcer”, argumenta; faz carinho, mima, beija, abraça, faz massagem, morde, aperta, faz cócegas, brinca de lutinha, se deixa vencer; que é o que é, não se finge, é sincera, não gosta de regras, tem vários estilos, tem opinião, é honesta, é fiel, abraça com vontade as pessoas, faz caras e bocas, levanta a sobrancelha, fala corretamente, inventa palavras, fala línguas estranhas, faz barulho; já foi vegetariana, é esotérica, é espírita, consulta oráculo, coloca tarô, coloca runas, tem livros de auto-ajuda; quer ter uma biblioteca...e, dentre tantas outras coisas que me compõem, ainda mais os defeitos (que não nego) tem uma vontade muito grande de ser feliz.

Amor cigano

Eis que colheram os trigos
E minh'alma se revigora
Tantos trancos e (des)barrancos
Que um dia chorei por hora

Porém nem tudo é engano
Mesmo que cause dúvida
Silêncio, pra mim, cigano
É mais que somente culpa

Adivinho os teus encantos
Tenho cá com meus botões
Minha queda por teus braços
Me causa alucinações

Ser tua foi meu desejo
E o tempo foi nosso acerto
Vinde um dia e vindo outro
Meu amor já vale ouro

Mas eis que a dúvida impera
Serei assim tão bela?
Devoto de meu encanto
Poderei causar-te espanto?

Na vida, não sigo rima
Na rua não sigo linhas
No amor não faço jogo
No querer não faço esboços

Perdi tantos passos
Nas escolhas que bem fiz
O passado são só traços
O que tenho, agora, eu sempre quiz.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Eu tornaria...

Tornaria a revolver a terra
Pra um resquício de fel encontrar...
Só pra beirar a tristeza
E para abarcar teu mal

Tornaria a sacudir os lençóis
Pra desnudar as marcas de batom...
Só pra remembrar dos detalhes
De um dia o amor que se foi

Tornaria a trançar os fios da consciência
Pra ruminar nossos desafios...
Só pra colher os frutos maduros
Que nunca poderíamos comer

E desse tornar contínuo e obtuso
Devolver as cartas, os livros, os beijos
Rasgar as palavras ditas, pensadas, recusadas
E, enfim, morrer absolutamente em paz.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Coerência

Coerência meu bem, coerência...
Naquilo que dizes e fazes
Nos sinais que dás e não se dá conta
Enquanto miro-te no espelho
De tuas próprias falhas.

Deixe de lado seu lado impecável
E escolha a aflição da dúvida
A mesmice do ontem não persegue
Quem escolhe correr ansiosamente
Em vez de imóvel olhar o sal secar.

Anda, move-te e sacode a toalha
Não é mais possível pestanejar
As cerejas cairam pelo chão
Quando você me deixou levantar...

Se eu voltasse atrás, você pularia?
Nesse trampolim áspero e frágil
Onde as palavras são um resgate d'alma
E as escolhas um passo a mais, pro mar.

sábado, 13 de junho de 2009

Aprontando

Ela olhou aquele olhar e sacou de cara - hmmm, tá me paquerando o safado!. Enquanto ele, embriagado tanto pelas curvas dela, quanto pela tequila - mal sabia que estava quase gritando o que lhe passava na mente só pela maneira como se comportava na presença da moça de cabelos de fogo e boca de cereja.
- Chegou aqui faz tempo? Disse ela com cara de debochada e beicinho.
- Sim e percebi que você chegou sem sapatos...algum motivo em especial?
- Jogo fora tudo o que me incomoda.
- É um belo modo de se viver...
E o silêncio ali se materializou e permaneceu por longos minutos...até que ele não aguentou:
- Você bebe?
- Não, embriaga a minha loucura.
- Annnh, mas vou pegar mais uma tequila ok?
- Pegue quantas quiser...vou ficar aqui.
Ele levantou e pegou a tequila no balcão, ela ficou olhando ele se movimentar e mirou a bunda dele sem pestanejar. Ele voltou e bebeu a tequila de um só gole.
- Está boa?
- É...eu gosto.
- Deixa eu provar...
Um beijo demorado, com gosto de tequila e um pouco de sal no canto da boca - enquanto os movimentos rápidos dos lábios e línguas fazia o gloss de cereja dela espalhar-se e sumir aos poucos.
- Eu... Ele queria dizer algo mas não coordenava nenhuma palavra com outra subseqüente.
- Preciso ir, tenho um ensaio de fotos amanhã, qual é mesmo seu nome?
- Pedro.
- Hmmm, bonito como você, eu sou Andrea - prazer.
- Pode me deixar ao menos teu número?
- Deixa que te encontro gato. Vou reconhecer esta bundinha de longe! E estou sempre por aqui...busco inspiração para escrever nestes momentos inesperados.
Virou-se e saiu. Ele ficou vendo o vestido azul de seda que mostrava tão bem aquelas curvas saindo pela porta enquanto os pés, bonitos e descalços, transitavam suavemente pelo chão.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um tempo perfeito

Tempo perfeito é o que passa
E por ele atravessamos
Sem que um minuto se ezvaia...

É o tempo que é partido
E por ele transitamos
Sem que algo seja perdido...

É tempo por perfeição
E por ele calculamos
Sem que dure menos a lição...

Não diga, esqueça...
Deixe que desse tempo passado
Seja somente o elo
De toda a nossa espera.

sábado, 30 de maio de 2009

Amores e dores

Pois é, assunto complexo de se tratar - tenho um amigo que diz que o amor não foi feito para ser pensado, pesado, medido e sim para ser sentido (romântico não? Ainda existem homens assim...); entretanto me disponho aqui a questionar a falibilidade do raciocínio do nosso órgão cardíaco. Está bem, dirão que me equivoco se há algum tipo de raciocínio num músculo determinado a bater sem cessar (estou considerando a vida apenas...), mas quem nunca sentiu um aperto no peito quando tomou um fora ou o coração acelerar na previsão de um acontecimento digno de registro que me desculpe. Então dirijo-me aos que possuem um coração que "pensa" além de sentir... mesmo que se formos racionalizar tudo isso me repitam que quem "sente" é o cérebro e o corpo ao reagir, bem, aí entra o coração.
Amar é muito mais que querer ficar grudado na pessoa como um chiclete e querer tornar-se uno com aquele que nos povoa os sonhos, mais que achar lindo tudo o que a pessoa faça (como um amigo disse: "ela coloca o dedo no nariz, que bonitinho! E aí um tempo depois tu olha e diz que nojo!"), mais que aceitar todos os defeitos (por mais irritantes que sejam)... mas pode-se dizer que engloba itens similares a estes.
Mas aí começo a tecer um comentário muito particular quando digo que amar é deixar um pouco de nós de lado e voltar-se ao outro e isso demanda esforço, escolhas e deixar os medos de lado. Pra se entregar para um sentimento assim é provável que tenhamos que ultrapassar alguns muros em nós, altos, de experiências passadas. Mesmo assim, nesse intento de vivenciar o algo-a-mais que o amor proporciona acabamos muitas e muitas vezes com a cara no chão: olhar para a pessoa e pensar que tudo o que você supôs sobre ela, você e ela e um futuro a dois era pura ilusão de quem queria mas não tinha...puxa, dói! E ter que pôr fim a isso porque você está cansado de brigas, de climas e de se sentir "torto" no mundo: p#%%@, dói! Muito! Porém você está decidido, pensou muito, pesou tudo e pôs na balança do lado contrário ao sentir e, nossa!, muita diferença pra fechar os olhos e fingir que nada está acontecendo ou pensar em "apertar uns parafusos" da relação para as coisas se acertarem por mais um tempo. Vai acertar? Não! Porque se andamos com velocidades diferentes e forçamos um andar lado-a-lado, ora sim ora também esses "parafusos" irão se soltar.
A maioria das pessoas fica com a outra e quer "acertá-la" com o tempo. Cara, não vou e nem quero acertar ninguém! Isso me faz pensar que há algo sendo forçado a acontecer e eu não faço NADA a força! Se é para estar com alguém, poxa, que flua tudo num boa desde o princípio e se a pessoas tem defeitos (invariavelmente acontece, todos os têm), eu também os tenho - aí entra a hora do "estar de olhos bem abertos e observar com frieza" para pesar na balança (tipo um futurômetro) constatando compensações entre qualidades e defeitos; já que se há uma compensação razoável e equilibrada podemos então aplicarmo-nos de fato ao futuro.
Será que estou sendo muito racional nesse papo? É a minha visão, não necessariamente a verdade, não necessariamente o que funcione de fato pois são infinitas as variáveis no amor - mas é o que levo em conta na hora de decidir se vale a pena ou não...
O cara é super caseiro e por mais que eu tenha meus momentos de ficar em casa (quem não curte o aconchego do lar) sinto uma necessidade grande de dar umas voltas e estar rodeada de pessoas, bem, isso se torna um fator negativo. Eu amo sair pra dançar e estou há mais de ano com o cara e ele não se movimentou para sairmos pra dançar, bom, isso demonstra que o cara não tem tesão pela coisa e sim é um fator negativo (não estou dizendo que o cara tem de amar ficar rebolando comigo na pista, mas ir comigo e dançar um pouco faria toda a diferença). Eu gosto de conversar sobre arte, música, literatura, filosofia, religião e mais o que "rolar na mesa" na hora e o cara abomina estes assuntos e não abre espaço para outros, geeeente, do que vamos conversar? "como foi seu dia"? O cara é super prático, lógico, objetivo e exige ação e eu sou meio sonhadora, divagante, indecisa e questiono tudo para depois aplicar - pronto!, é briga na certa. Eu sou um ser muito cinestésico e tenho necessidade de toque, carinho, beijo e ele tem dificuldades em dar carinho e admite que provavelmente não vá mudar...bom, isso faz muita diferença. Ele diz que as coisas que eu gosto e acredito (que têm muita influência na pessoa que SOU) são bobagem? ... aff! Preciso aumentar a lista?
Na minha visão de relacionamentos e amor, os opostos se atraem mas não se mantém...é triste mas nas minhas observações este quesito têm total importância: a similiaridade entre as pessoas - se gostamos e acreditamos basicamente nas mesmas coisas ou em coisas muitos próximas não teremos muito atrito. É claro que não quero encontrar uma cópia de mim, até porque como um amigo disse ("o que eu vou aprender comigo mesmo?") - e em relacionamentos, mesmo que terminem, aprendemos muita coisa é por esta troca e caminhar contíguo que vale o risco de "quebrar" o coração (somadas a isso todas as ilusões e planos que vão junto embora).
Quanto mais a gente ignora os fatores de uma "falha de análise" e consequentemente fim de relacionamento, mais demora para curar-se e "peneirar" o que queremos de fato do que tivemos e encarar o que faltou (os vazios dizem muito sobre a nossa personalidade e nossas necessidades).
Dá vontade de se esconder debaixo da cama? Ahhh, se dá! Mas garanto que não vai acontecer nada de ruim e também nada de emocionante...você quer uma vida de escolhas e "fracassos" ou uma bem monótona sem opções, riscos, decepções mas também sem tudo o que é bom e faz a gente sentir que está bem vivo?