Pois eis que a vida traça seus mais maliciosos planos e me derruba de meu pedestal. Achava-me completamente segura entre as imagens antes endeusadas, mas não, eis que vem o próprio céu em forma de gente e me deixa caída ao chão. Como se eu tivesse de ver de outro ângulo a vida, as pessoas e o próprio existir. Foi tão fácil subir lá, guiada pelas mãos que hoje se ausentam de minha visão e meu tato, como se eu merecesse realmente estar ali - engessada e bela, simplesmente "pairando" no tempo e espaço. Quem me dera ter antes percebido, que de malícias a vida só tem a aparência, e que devo a ela me entregar sem receios para poder então compreendê-la. Não há um ponto, são muitas e muitas vírgulas e reticências a se desenhar enquanto transitamos pelos caminhos feitos nas escolhas diárias. Eu poderia ter ficado para sempre ali, segura e em êxtase, mas dali que ensinamentos iria eu tirar? É nas dores da vida que a gente aprende realmente a amar e deixar-se amar, aprende a aprender o que é realmente estar vivo e vivendo - e com o coração pulsando e por vezes despedaçado. Ninguém me disse que seria fácil, tampouco peço que agora me afirmem algo, apenas pensei que aprenderia com mais facilidade e que talvez não fossem necessárias tantas lembranças de que sou feita desta carne-e-sangue, pois quando sou cortada sinto dor e sangra. Porém aprendi que a gente deve deixar sangrar o quanto tiver de ser porque se tentamos estancar "enganando" a ferida ela certamente irá infeccionar, vai doer mais e vai ser pior. Dessa vida que vivo quero mesmo é me entregar mesmo e depois de aprendidas as lições que eu possa compartilhar algumas com aqueles ao meu redor, mesmo que elas sejam apenas um pedaço desfigurado de suas lições, que seja útil aquilo que aprendi para os que estiverem por perto (ou distante) - que a minha dor não seja só por mim. E juro que muitas das vezes eu queria pegar as dores dos outros pra viver só para não vê-los sofrer. Acontece que cada um tem suas próprias dores e prazeres e devem ser vividos particularmente, eu só posso ser a mão que afaga, o ombro que suporta parte do peso e os olhos que compreendem e acompanham. Assim como tenho de viver meus próprios fatos e me permitir experimentar todas as emoções que me forem possíveis, mesmo que por pouco tempo. Não importa o tempo que vou percorrer uma montanha de um vale a outro e sim o que eu vou viver e aprender pelo caminho.
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