Era dúvida: seguir adiante negando a dor lascinante ou correr atrás de algo que nem sabia mais se valia a pena? Olhou as fotos dentro da caixa de sapato cheirando ainda ao All Star que havia dado a ela e derramou uma solitária lágrima que caiu exatamente em cima do rosto de Andrea. Se conheceram longe de tudo e todos e lá eles eram pessoas inteiras de sonhos paralelos realizando-se.
Fizeram vários planos para quando retornassem ao Brasil. Viveram juntos logo em seguida de conhecerem-se e de nada se arrependeram. Sua rotina incluía além do trabalho e estudo vários amigos que compartilhavam de sua felicidade. Repartiam a alegria de estarem vivos com quem passasse perto.
Entretanto agora ele relembrava anos em minutos com o telefone na mão questionando se pediria uma nova chance de provar que ainda era possível vivenciar aquilo tudo que foi tão meticulosamente planejado no auge de seus mais preciosos sentimentos. Se fosse preciso, faria escolhas melhores e concessões que ele considerava anteriormente como uma violência à sua personalidade.
Ali, com o aparelho que serviria como uma ponte para seu passado, esperava por um sinal. Foi quando escutou o som que avisava uma mensagem de texto. Abriu: "Estava aqui pensando em como foi bom te conhecer. Espero que estejas bem. Beijo." - ficou surpreso em receber a mensagem daquela que achou que não entraria em contato. O coração doía demais para viver uma aventura qualquer mas naquela noite tinha se permitido divertir entre os braços daquela novidade. Fora uma boa supresa tanto tê-la conhecido quanto agora aquelas palavras.
E seria um sinal para avançar no futuro do improviso? Para abandonar o já feito, o já exaustivamente tentado e jogar-se? Pelo pouco que conhecia sabia que ela valia a tentativa. Queria ter se permitido mais. Por medo e dor aquietou as vontades e calou em vez de retribuir um contato inicial. Em contrapartida lembrava sempre daqueles olhos faiscantes e do sorriso constante.
Olhou a caixa novamente. Fotos e mais fotos. Tantos lugares, tantos momentos, tantas risadas - e agora só sobravam as lágrimas. Seria este o destino já traçado desde o primeiro momento? Um nada aguardado final que separa os caminhos e os junta com outros? Seria justo dedicar-se à alguma coisa que não fará mais parte de nós no futuro? Se fosse assim ficaria anestesiado de propósito – não sentir, não esperar e não planejar. Ficaria alheio às decepções, a salvo de sentir o peito comprimindo-se.
O murmúrio dos vários pensamentos foi cortado pelo tocar do telefone. No visor mostrava “Amorzinho chamando”. Inspirou fundo e atendeu com uma voz grave de quem não está sofrendo e fungando pelos cantos. Escutou risadas ao fundo e admirou-se de ás onze da noite ela estar fora de casa – era sempre tão caseira. Questionou onde estava e ela disse que tinha ido num pub com colegas da faculdade. Foi aí que ela disse que precisava do casaco que estava com ele porque iria viajar no final de semana e estava muito frio. Em segundos passaram as imagens dele entregando a enorme caixa com o laço vermelho em cima e ela sorrindo agradecida pelo presente – aquele casaco fazia parte de um momento muito especial já que em seguida ele pediu pra morarem juntos. Agora era somente um casaco para ela. Um descartável utensílio a lhe servir sem valor sentimental. Ele ainda segurava a caixa de sapatos. Levantou-se e seguiu em direção à sacada – abriu a porta e enquanto respondia um “Claro, pode vir pegar aqui na portaria.” derramava o seu passado na rua. Múltiplos momentos voando entre os carros da avenida.
Já que pediu e precisava de sinais tinha interpretado como um outdoor a seqüência de acontecimentos. Leu novamente a mensagem de texto e resolveu ligar: nunca se arrependeu.
[Novidades ás vezes são luvas moldadas pros dedos modificados pelas circunstâncias passadas e necessárias. Quem arrisca o passo aprende um pouco mais, vive um pouco mais e sempre tem a opção de escolher seguir ou não.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário