terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Calar

Calar a paisagem que se mostra ao meu redor. Tudo está tão nítido e me ocupa em todos os espaços que mal encontro um lugar vago para respirar. Está tudo tão estranho ao meu paladar, tudo tão metamórfico, tão misteriosamente abstrato e eu me lembro de em algum lugar em que eu não era nada mais do que um ponto no vazio do espaço-tempo.

São tantas e absurdas tonalidades de cores que eu mal consigo focar em uma dimensão. Eu tento capturá-las, mas elas são livres e flutuam com amorosidade em torno de mim. Parece um conto de fadas, desses que a gente repete a dose e não esquece o final. Dessa vez não vejo ponto, nem final, nem desfecho. Nada parece seguir uma linha imaginária linear ou passível de ser captada em sua realidade. Real? Como descrever como real o que acontece aqui? Na imaterialidade desse sonho vívido tudo é absolutamente real num sentido cinéstesico que não se pode abraçar fisicamente. Eu apenas sou - misturada entre tudo ao mesmo tempo em que observo o desenrolar dessa trama.

Por quê em alguma instância eu iria querer calar tudo isso? Pelo medo de não-controle? Por não ter noção de onde tudo isso vai levar? Por escolher viver nesse mundo sistemático e bicolor? Talvez... em algum lugar do passado, onde eu não tinha vivenciado essa multiplicidade - eu escolhesse viver a vida em tonalidades cinza. Se eu não conhecesse essa paisagem, quem sabe. Talvez eu buscasse ainda me enquadrar nessa caixinha pequena onde tantos se colocam de cara para o canto e se dizem felizes. Já estive nessa busca e agora só busco a beleza da paisagem onde o horizonte é o único final e limite visível e compreensível. O amor, a vida, o cotidiano pode ser mágico. Mas, posso dizer pra vocês? A magia mora dentro. Infelizmente muitos buscam desesperadamente em coisas e corpos o que reside dentro e é de fácil acesso. 

E eu? Sou fada da minha própria existência. Eu moro nas cores e só aceito o extraordinário fluir como opção. Não me venha pedir pra ser de concreto e olhar as coisas de forma fixa e séria. Eu danço, eu voo. Não me encaixo e ao mesmo tempo eu retroalimento os seres que vivem nesse caos. Daqui eu dou risada - e não é deboche. É delícia, é vida, é uma gota a mais de sabedoria saboreada no canto da boca. Eu vivo. E seguirei... sem calar. Sem pausar a minha caminhada.

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