Não é pelas vias que chegamos a um destino. É através dele que chegamos às vias. De fato. O factum misterioso que nos olha com olhos apertados de quem calcula os movimentos. E somos contrários [também contraditórios]. Na verdade vivemos num paradoxal reduto de tensão entre as vontades e as possibilidades. Avassaladoras. Puxam pelos cabelos e nos fazem voltar a cabeça para onde nem sequer olharíamos, na distração cotidiana. Falta o ar. De alguma maneira também falta compreender as dúvidas que pairam enquanto encontramos uma saída, uma resposta, uma desculpa. Vomitamos desculpas ante as ansiedades insatisfeitas. E calamos. Sim, o silêncio perturbador daquele que paralisa o passo e, frente ao panorama indecifrável, congela. Assustamo-nos com as travessuras da existência, a nos cobrar mais do que um robótico e patético andar de lá para cá [e de cá para lá]. Há algo mais. E nos pinica, e atravessa - com agulhas finas na medula dos sonhos deixados de lado [desfeitos entre as revoltas do vento da urgência de ter algo a mais].
Esse observador que nos leva aos abismos de dúvida e vertigem da ação tem uma malícia hábil. Vai conduzindo [de leve] até o espelho de uma inegável verdade crua - e nos abandona lá. A solidão do reflexo olho-no-olho que tanto queremos evitar.
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