domingo, 9 de fevereiro de 2025

Bronheiro profissional

- bronha mata?
- espero que não, senão estou frito.

Astolfo acorda assustado. Que sonho foi esse?
Onde já se viu? Que coisa mais estapafúrdia! Mas... será? Ficou encucado.

Seguiu os passos comuns de um dia qualquer no qual acorda com tempo suficiente de ter uma pausa antes de ir para o trabalho. Começa a dar uma sensação de luxúria, um tesão que sobe do nada. Até se sente pilotado, como se alguém estivesse apertando alguns botões e lhe fazendo entrar em modo combustão. Pega o celular que quase já faz o caminho reto e certo pro site de putaria. Capaz inclusive de já conhecer as suas preferências [os algoritmos que o digam, já decoraram seus fetiches faz tempo].

Está com a mão coçando pra enfiar na calça e fazer a festa. Mais um jatinho no box pra depois passar uma chuveirada e seguir a vida como o costumeiro bronheiro profissional que havia se tornado. Era muita prática! E treinava todos os dias, quase no mesmo horário - tanto que o sistema nervoso já estava habituado e engatilhado. Era como quem come sempre no mesmo horário ou sob as mesmíssimas circunstâncias e assim sente fome previamente, salivando tal como o cachorro de Pavlov. 

Lembrou do sonho. O tesão foi minado pelas dúvidas e questionamentos: que balde de água fria. O porn entrou pelo cano e perdeu a jogada, dessa vez. Tomou banho, fez café, degustou suas torradas e foi para o trabalho. No caminho, meteu sua cara nas mídias sociais e deixou a ruminação de lado - estava muito bem anestesiado. Viu uma gostosa com uma blusa apertada no metrô, no instagram uma babexxx enviou uma mensagem pro perfil dele oferecendo algo sexual e veio novamente aquela vontade de enfiar-se no primeiro banheiro e bater uma. Pensou na morte do gato de estimação, o tesão foi embora e chegou enfim ao prédio de costume.

- que cara é essa Astolfo? não dormiu bem? 
- tive um sonho estranho e tu estava nele.
- ué? o que eu estava fazendo lá?
- bronha mata?
- espero que não, senão estou frito.

O colega deu risadas enquanto ele teve o deja-vú de um sonho. Riu, mas foi de nervoso. Fingiu estar relaxado e de boa, foi ao banheiro. Ao entrar seu sistema nervoso foi engatilhado pelo ambiente e o pau ficou rijo, pronto para bater continência para mais algum ardente desejo mal resolvido. 'eu até pareço um bicho... será normal isso?' O pênis de Astolfo não gostou nada desse momento de reflexão bem na hora em que estava de prontidão e afrouxou-se nas cuecas novamente. O site de putaria também ficou triste, pois seus cliques habituais mantinham ele em alta nas buscas.

O dia transcorreu nada habitual: cada vez que os gatilhos colocavam-no intumescido a reflexão cortava o barato do pré-coito [que não passava de uma ilusão já que era apenas uma projeção mental de um coito que nunca aconteceria ou de um que havia sido há muito tempo dado que a rola só rolava na mão (sempre a mesma) de seu dono], a bronha dissimulada no banheiro [com direito à privacidade] da empresa e a sensação do banho de neuroquímica que uma boa gozada dava.

As reflexões foram tantas que ele começou a perceber o tamanho de seu profissionalismo. Era muito tesão, muita vontade, por qualquer motivo. Até parecia que seu pinto tinha vida própria! Afinal, quem era o dono ali? Começou a se sentir um animal que fingia bem em ser humano, mas no fundo somente sua lascividade importava. Lembrou que não se relacionava há séculos porque todas as vezes que ia transar com alguém precisava aquecer antes com putaria. E fazer sexo com alguém demandava investir tempo, energia e dinheiro - coisas que não estava disposto: assim satisfazia-se com suas babes na internet [alimentando uma indústria que só cresce com os bronheiros e está nem aí para dilemas éticos].

Passou dias cortando seus embalos habituais com reflexões das mais variadas. O pênis passou a viver uma realidade de paz que não conhecia há anos. O box permanecia limpo. As babes nem sabiam da existência dele e seguem sendo exploradas por outros cliques e outras produções [afinal sempre existe algum outro fetiche mal resolvido para ser exposto em um vídeo caseiro encomendado por alguém que não teria coragem de não parecer de bem e realizar de fato suas fantasias na cama]. Começou a pesquisar sobre o assunto de vício em pornografia, descobriu que isso era muito comum e vários homens sofrem com isso [relações despedaçadas porque um quer relacionar-se apenas com seus devaneios em vez de lidar com os dilemas (e benefícios) de viver em carne-e-osso]. Começou a fazer terapia [ficou quieto quanto a isso pois iram dizer que tinha ficado fresco] e voltou a se relacionar com as pessoas, offline, vida real, olho-no-olho, pele com pele [mesmo que fosse para apenas segurar a mão de alguém, dar risadas e deixar o tesão crescer com o tempo e a admiração].

Voltou enfim a sentir prazer em estar vivo somente. Nem precisava de um aparelho celular para isso: olhava pelas janelas, observava os pássaros, as flores, as borboletas, as árvores. Ia para o parque correr ou levava um livro para ler embaixo de uma figueira centenária [uma das que restam, os condomínios estavam se multiplicando e os falos de concreto estão ganhando espaço rápido demais - será que os donos das construtoras são bronheiros e realizam suas fantasias fálicas através de seus prédios? 'Vou comentar com a Verônica, isso vai dar pano-pra-manga na consulta que vem', pensou] ou meditava [começou a meditar depois que pesquisou sobre os benefícios pro cérebro e sistema nervoso como um todo].

Um sonho foi a porta que o despertou. Poderia nunca ter se tornado livre. Abandonou a profissão automática e robótica no qual havia se enfiado por deixar-se levar pelo tesão dia após dia após dia. Depois dizem que pensar faz mal...