domingo, 22 de abril de 2012

O meu estereótipo


Estou devendo a um amigo este texto, já há algum tempo. Ele pediu que eu descrevesse como é ser o estereótipo da beleza e como fiquei olhando sem saber o que queria me dizer, explicou: Loira, alta, magra, olhos azuis, corpo delineado, bonita... Bom, vou dizer então como é ser o estereótipo social da beleza {e não que eu o aprove}.
Quando as pessoas me olham, e se deixam levar por uma ideia coletiva daquilo que eu sou, elas se precipitam em um julgamento pré-concebido do meu ‘eu’. Parece mentira, mas eu tenho de provar para algumas pessoas que não sou fútil, nem vulgar, ‘fácil’, burra, esnobe e etc.
Alguns me olham, veem um sorriso no meu rosto {sim, sorrio muito} e creem que minha vida é perfeita, um conto de fadas ou algo assim. Pelo contrário, eu sorrio porque foi minha escolha: encarar a vida pelo lado positivo, ter bom-humor apesar dos contratempos e das tristezas. Se me permitir ficar ‘carrancuda’ de nada vai adiantar e ainda por cima vou ter de me aturar desse jeito. Prefiro ser uma boa companhia para os outros e, acima disso, para mim mesma – porque eu passo a maior parte do tempo convivendo comigo, não é?
Nasci em um bairro simples e tive de conviver com a violência bem de perto. Acho que foi com uns oito anos de idade que vi uma arma pela primeira vez: apontada para minha mãe e para mim, enquanto éramos assaltadas (assaltos foram alguns... não fiz questão de contar). Tive o infortúnio de veri uma arma mais uma vez pelo menos antes dos 12 anos de idade. Nossa casa foi arrombada duas vezes e é bem angustiante saber de outra pessoa ali, vasculhando os nossos pertences e levando aqueles tidos como ‘de valor’. Sem falar que era difícil dormir uma noite de sono inteira tranquilamente quando se ouvia gritos, tiros ou se sabia da possibilidade de um aparente barulho no telhado provocado pelo vento ser alguém tentando entrar. Foi ótimo conhecer a sensação de dormir uma noite inteira, sem acordar sobressaltada por algo assim, e isso aconteceu quando tinha 16 anos – ao ir morar em um apartamento num condomínio fechado.

{Posso dizer que a minha vida só melhorou, com o tempo e as novas oportunidades, através das escolhas e, sobretudo: da vontade de crescer como pessoa e ser ao menos um pouco melhor a cada dia. É algo difícil de optar, pois é sempre mais fácil acomodar-se e seguir caminhando por onde a ‘correnteza’ te leva.}

Eu posso parecer uma boneca, de longe. De perto vão ver que tenho cicatrizes de tombos de infância, que tenho dores, medos, sonhos. E perceberão as falhas, as opiniões radicais em alguns pontos... Vão se dar conta de que eu tenho um coração, e sangra. Minha vida emocional está longe dos contos de fadas imaginados pelos outros - já tive paixões platônicas, tomei foras, fui traída. Já tive de me reerguer depois de final de relacionamento e também passei por desmanchar a ilusão de estar com alguém que não dava a mínima pra mim e com quem nunca teria um relacionamento. Sofrer por amor: conheço bem. Se iludir: idem. Desistir de alguém: bingo!. A vida é assim mesmo, e algumas mulheres creem {inocentemente} ser um corpo, uma ‘embalagem’, capaz de conquistar e fazer tudo dar certo na vida. Pois bem, eu sei bem que isso é uma ‘balela’: não interessa o corpo que nós temos e sim como nós nos sentimos dentro dele. A forma como interagimos com o ‘mundo’ ao nosso redor é bem mais importante do que não ter celulite, ter um corpo escultural, cabelos esvoaçantes, olhos azuis ou qualquer outra invenção dessas.
Mais um problema, de ser um estereótipo, é o fato de algumas mulheres não quererem a minha companhia. Eu realmente não sei, não entendo... pode ser competição, por se sentirem intimidadas de alguma maneira, ou quem sabe eu sou tremendamente chata e entediante {quem sabe?}. Na maioria das vezes eu sou realmente muito simpática, e não faço esforço para isso: eu sou assim. Infelizmente parece que as outras mulheres percebem isso como uma ‘forçação’ de barra, me fazendo passar por boazinha e etc. Pelo que percebo os homens parecem gostar da minha companhia, entretanto eu tenho de ‘provar’ que a minha simpatia é só ‘eu sou legal, tá?’ em vez de ‘olha, sou fácil’.
Sem falar no comprometimento intelectual: loira, bonita, simpática... ‘hum, ela deve ser burra’. Não, sinto muito. Sou bem inteligente e tenho bastante personalidade, sou palpite, opino, critico, falo mesmo... não tenho a menor vocação pra moça comportada que se submete às vontades alheias. Acabo sendo polêmica algumas vezes em alguns diálogos. Sempre gostei de ser eu mesma, original de alguma maneira, sem ser parte de alguma ‘catalogação social’. Pergunto quando não sei e esboço teorias de vez em quando. Sei da quantidade enorme de coisas desconhecidas por mim e que talvez a maioria ainda vá permanecer assim, mesmo com o tempo e as experiências.
Então, esse é um resumo. Gosto da ideia de que as pessoas vão começar a se olhar através das aparências, em busca das essências. Ir além da superfície das impressões manipuladas pela sociedade, mídia ou preconceitos e realmente tentarem conhecer o outro por dentro, pelo avesso. Somos feitos de muito mais e o importante está sob a maquiagem, roupa, corte de cabelo... status social, religião, partido político, time de futebol ou qualquer outra forma de segmentação. Talvez algumas pessoas me olhem desse modo segmentado e limitado, deixando assim de saber quem sou realmente. Estou fora de qualquer rotulação, todos estamos – cada um é único. Eu procuro derrubar os muros que me impedem de conhecer {o máximo possível} aquele outro ser em contato comigo, não importa quanto dure a nossa ‘interação’.

{Quando percebo a realidade de outras pessoas, bem piores do que qualquer história triste vivida por mim, eu me sinto egoísta e prepotente – julgando as minhas tristezas maiores do que as alheias. E há inúmeras pessoas com bagagens duras de se carregar e suportar. Prefiro usar a minha como degrau, para elevar minha consciência na caminhada da existência. Esse texto foi um pequeno #mimimi, um desabafo, estou pra escrevê-lo desde o ano passado.}