domingo, 28 de fevereiro de 2010

Acontecer

Suaves e singelos...
Teus passos em paralelo,
A boca a me dar alento
Mesmo que sem tormento.
Certamente que quero,
Mesmo em um quente inferno
Contar com esta bela visão:

Nossas mãos em união...
Enquanto nada, entre nós, é em vão.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sinais

Era calado. Sempre acreditou que os sinais viriam quando fosse propício. Ficava observando tudo e todos na expectativa de compreender mais a respeito daqueles que tanto se amavam e ainda assim se faziam sofrer. Foi numa noite chuvosa que aprendeu que a os sinais são mascarados por acontecimentos fora do usual.
Já tinha ido dormir pois estava muito cansado depois de ficar horas na frente daquele computador tentando arrumar soluções possíveis para pedidos impossíveis de seus superiores. A chuva caia torrencialmente lá fora e parecia que queria entrar, de tanto que batia nos vidros da janela. Adorava aquele barulho pra dormir mais descansado, relaxava. Mas naquela noite estava inquieto e não conseguia se deixar adormecer, então resolveu descer as escadas e tomar um copo d’água. Ao descer uns três lances de escada ouviu o barulho de um choro contido que vinha do sofá da sala.
Achou estranho pois achou que os pais e as irmãs estivessem dormindo, entretanto seguiu até a sala. Encontrou a irmã mais velha com um papel numa mão e uma almofada na outra abafando o choro. Ficou ali sem saber se invadia aquela privacidade ou se sentava ao seu lado e secava as suas lágrimas. Na verdade nunca imaginou a irmã mais expansiva, alegre e determinada chorando – convulsivamente. Aguardou ainda um pouco pra ver se ela iria se acalmar, mas parecia que cada soluço ia mais fundo em alguma dor e que em algum momento ela iria sufocar.
Foi caminhando e fez-se notar para não assustá-la, sentou ao seu lado e pegou na mão que segurava o papel, tirou a almofada da mão dela e a abraçou forte. Ela soube que podia simplesmente chorar, sem ter de dar alguma explicação e chorou. Molhou o pijama listrado do irmão mais novo e depois de muito soluçar o olhou e sorriu. Foi um momento transcendental para ambos: ela, a extrovertida e tagarela, sendo confortada - ele, o tímido e distante, consolando. Ficaram um tempo se olhando e depois a folha branca toda molhada passou para as mãos dele.
“Amada Ângela,
Foi muito bom tudo o que a gente viveu e isso ainda acontece dentro de mim. Seria ótimo se você pudesse vir para a Itália e pudéssemos continuar de onde paramos, apesar do medo. Sei que se não tentarmos vamos ficar com isso engasgado o resto de nossas vidas. Considere isso como, se não der certo, um alívio futuro. Pense com o coração... é uma dica porque te conheço e sei que a racionalidade vai te tontear e assim negarás meu pedido.
Talvez nunca tenha te dito, mas Te Amo.
Daquele que te aguardou, te perdeu e te aguarda novamente... Marco Antônio.”
No entanto ele não entendeu porque a irmã chorava: se era alegria ou tristeza, se tinha se surpreendido por ter-se passado seis meses desde a separação dos dois e ele mandar aquela carta ou se estava aflita porque iria negar para continuar sua vida no Brasil. Mesmo assim impressionou-se com a expressividade de Marco, admitindo que tinha errado ao negar o que sentia e protelar uma história, expressando que amava quando nunca tinha dito nada parecido, correndo riscos mas seguindo seu coração. Em vez de questionar o que Ângela faria deu-lhe um beijo estalado na bochecha e disse: Viva, mana, mas ame de verdade. Se não tiver sentido não vai valer a pena e correr riscos faz parte do cotidiano. De que você quer se lembrar daqui há alguns anos?
Subiu aqueles degraus como se estivesse galgando o nirvana. Quando fechou a porta e se deitou na cama ficou olhando pra chuva e pensando em quanta coisa deixou de viver por isolar-se de seus reais sentimentos. Ficava aguardando um sinal em vez de fazer acontecer e assim perdia muito tempo. Nunca imaginou que as palavras que saíram enfileiradas pra irmã um dia seriam proferidas por ele, mas sabia que não havia acontecido por acaso: amanhã era outro dia e Bia precisava escutar o que aquele ‘novo’ ele iria expressar. Antes que ele fosse abatido pelos ponteiros que passam velozes e não nos perguntam se já decidimos ou não, simplesmente escorregam o tempo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Encontrados - [Em contra dos]

Entre contro-versos
Se encontram marcas
De palavras latentes
De saudades poentes
De angústias valentes
De ponteiros passantes
De sorrisos avessos.

Nesta contra-dança
Se encontram pedaços
De olhares indecifráveis
De dogmas irreparáveis
De sonhos inquebráveis
De beijos irrecusáveis
De silêncio... que encanta.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Percepção

Tem uma parte da gente que a gente nega porque é intelectual demais, desse modo: veraz demais também. E a gente percebe que no fundo a verdade não é só fato, pessoa, sentimentos – é uma interpretação única da verdade que precisa de alimento pra existir. O alimento vem da vontade de ver, transparentemente, sem floreios ou preenchimentos. É uma necessidade única de perceber com clareza os fatos porque não há tempo a se perder.

Aprendemos muito e estes aprendizados fazem com que a nossa tolerância à perda de tempo se reduza vertiginosamente com o passar do tempo. Era pra ser diferente? Bom, o ser humano não tem em si uma linha lógica de evolução. Deixemos Darwin de lado, estou tecendo aqui sobre a existência. Nem o cérebro está completamente desvendado ainda, quando mais o existir.

Pode parecer papo de filósofo que está sempre tentando validar tudo, refletindo sobre a ínfima parte de qualquer coisa. Sei lá, busco sentido na vida, vocês não? É tão fácil pra algumas pessoas simplesmente negarem tudo e viverem num mundo fake de ilusão, nem sempre positivo. Acho que é difícil realmente ver as coisas e daí ter de tomar algumas (sempre) decisões. Mas, se consideramos que viver é escolher o tempo inteiro, mesmo numa ilusão é escolha... certo? De qualquer forma a pessoa fez a opção de ter uma trajetória cômoda, mesmo que completamente insossa.

Bom, prefiro a imprevisibilidade autêntica e que me põe medo do que a certeza absoluta de um amanhã que não me trará desafio, emoção e reflexão. È fácil falar, sempre é fácil. A ação é o botão que, ao contrário de alguns que sempre o mantêm pressionado, se mantém numa caixa de vidro com um ‘em caso de emergência, aperte’. Sábios os que casam bem o estudo de cada situação e a ação no tempo devido.

De qualquer forma, a percepção está no cerne da atitude. Quando melhoramos nossas observações acerca de nós mesmos e dos outros a ação se torna uma parte não tão mais avassaladora – as conseqüências são na mesma proporção. E não há nuvens de dúvida pairando sobre nossas cabeças, dado que pensamos (pesamos) e agimos com base em evidências bem delimitadas. Se o fora é o dentro manifestado... pôxa, quanto dentro desajeitado a gente mantém só por preguiça de pôr ordem? Depois interpretamos os acontecimentos tão do avesso como se estivéssemos vendo por um espelho côncavo e nem imaginamos o porquê.

E assim, devidamente perceptivos (nunca no ideal) estamos mais preparados para uma convivência mais harmoniosa conosco e nossas decisões, interagimos com o mundo e as pessoas sem meias-verdades e poréns. Evitamos os ‘talvez’ que nos tomam tempo e atravessamos mais situações que se dão por vontade nata de vivenciar algo. Saímos da comodidade flutuante em que nos deixamos estar e temos contato com uma parte muito mais verdadeira (talvez dolorosa) nossa.

Se é para existir, que seja vivendo; Se é pra viver, que seja sentindo. (Ia acrescentar tudo ao mesmo tempo mas é generalista demais)

Está bem, acho que filosofei o suficiente por hoje... mas acho que o tema ainda se estende. Querem complementar?