domingo, 28 de junho de 2009

Conflitos

Quem não estava não viu
Que aquela dor sumiu.
Aquele relance fatal
E muita coisa se esvai.
Uma multidão de ignoráveis
Todos seguindo...
Os mesmos passos dados
Ontem e anteontem e mais.
Quem não participou
Não sabe como foi
Não viu o esforço
Pra voz não se calar
Pra encontrar uma brecha
Entre aquele batalhão
Fugir? não.
Queremos mesmo é lutar!
Não com armas
Com palavras
Com valores
Com ideais
E se houver sangue
Que seja somente
Aquele que pulsa em nós.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Declarada...

É fugaz este teu jeito,
Me deixa zonza de prazer.
É perpétuo este teu toque...
Que me faz enlouquecer.
Tão singelo teu olhar
E único e singular
Que eu poderia me perder.
Espairecer? Pra quê?
Qual a graça assim...
De um mundo sem tesão
E palavras sem vontade.
Quero mesmo é ação
Nesse meu mundo particular
Em que escolhi você,
Só você...pra participar.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Memória

O que penso hoje
Já não é o que pensava.
E que pensei?
Nem eu mesma sei...
Tantos poréns pelo espaço,
Entre os círculos que laço,
Nessas minhas teorias
Revertidas em rabiscos.
Meus desenhos são mentais,
Para distrair os neurônios
Que só querem esquecer...
Dos erros peneiro as lições
E acertos não somam dez
Quer que conte outra vez?
Deixa eu tentar me lembrar...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Acomodação

Era um destino fatal o dela. Tinha que seguir seus instintos e deixar-se viver entre os leões daquela floresta particular e como não havia muita escolha se quedou ali para tentar ganhar forças e lutar contra. Amanheceu cedo naquele domingo de outono e resolveu pôr leite pra ferver e fazer um chocolate quente, não muito tempo depois ele resolveu acordar também. Fingiu que não o tinha visto e foi pra rua, debaixo de sua árvore preferida, com seu livro da vez e a xícara na mão. Entre os pensamentos uma vontade louca de falar tudo o que pensava e que fingiu não sentir. Fingia bem. O sol aquecia suas pernas enquanto à sombra da árvore se fixava no ponto mais azul do horizonte e desejava tudo aquilo novamente: as pernas tremerem, o coração disparar, a boca secar e sentir os pés pisando nuvens. Foi quando ele chegou perto e abaixou-se. Olharam-se longamente e enquanto o vento fazia as roupas no varal quase voarem pelo pátio verde um papel saiu em liberdade de dentro do livro. Ela embranqueceu e ele foi atrás. Pegou o papel marcado de dobras e do tempo e abriu. Seus olhos passavam pela folha e enchiam-se de água. Ela fechou os olhos...não queria ver a decepção instalando-se lentamente naquele coração já tão machucado. Ele voltou com o papel dobrado e estendeu a mão. Ela pegou. Ele chorava. Nenhuma palavra era necessária naquele momento. Agora sabia que não tinha um filho. Uma paternidade perdida como as escolhas que fez e os carinhos que não deu. Uma voz doída dentro do peito que queria sair, mas ela não tinha dito até agora que queria partir. Apensas dois estranhos que continuavam a conviver por falta de coragem pra continuar e pavor de pedir perdão...

sábado, 20 de junho de 2009

Identidade

Sou aquela que RI: com a vida, com as pessoas, de mim mesma, dos problemas, dos limites; que CHORA: com as pessoas, sozinha, no cinema, na propaganda, na rua, no ônibus, no momento em que as lágrimas surgem; que LÊ: na cama, ônibus, trem, sofá, consultório, sozinha, com alguém, para alguém, em pé; que CANTA: no chuveiro, na rua, no ônibus, na cozinha, na sala, na cama, no palco, música boa, música ruim, música que fiz, música que não conheço, música de improviso, engraçada, quando quero; que DANÇA: na chuva, na frente do espelho, em cima da cama, no palco, na danceteria, no bar, no pub, no banho, na parada, na imaginação; que ESCREVE: qualquer coisa, poema, crônica, rascunho, história, projeto, sonho, dedicatória, mensagem, frase, declaração de amor, detalhado, pela metade, fantasia, realidade, protesto, sem pensar, reflexões, medos, convicções, na hora que quer, no ônibus, na cama, no parque, na festa, no caderno, na propaganda, no jornal, no guardanapo, na agenda, no bloco, com lápis, caneta, lápis de cor, giz de cera, com guache, na tela; que AMA: a vida, a filosofia, a natureza, as pessoas, a família, os amigos, os animais, o amor, o livre arbítrio, música, ler, conversar, passear, aprender, compartilhar; que ODEIA: hipocrisia, falsidade, mentira, indecisão, traição, egoísmo, politicagem, egocentrismo, discriminação, preconceito, precipitação, subestimação, estagnação, rotina, padrões, enrolação, teoria excessiva; que BRINCA: com criança, como criança, de criança, em qualquer hora, em casa, na rua, no restaurante, no trabalho, no bar; que CORRE: com a vida, com os lobos, pros amigos, das pessoas, de resmungos, do pessimismo, para o abraço, de medo, pra pegar o ônibus, pra alçar vôo, porque quer, por puro exercício; que CAI: e chora, ri, rola, levanta, pede colo e sacode a poeira; que SONHA: acordada, dormindo, no ônibus, em pé, caminhando, lendo um livro, vendo um filme, vendo a vida, com as pessoas, por puro prazer.
Que procura, encontra, perde, chora e compreende; escolhe, pede conselho, sai pela tangente, pega o rumo; sofre, sofre demais e de menos, porque lembra, porque esqueceu; admira a paisagem, as pessoas, o momento, o que tem; pula, pula em cima, na rua, na poça, nos degraus, na cama; pede, exige, quer, gostaria, promete, diz, sussurra, grita, fica quieta, fala com o olhar, fala com os gestos, estabelece códigos; sente, demonstra, observa, se contém, cativa, seduz, declara, tem ética, espera; fica nervosa, confusa, pensa, repensa, se acalma, fica zen, mantém o sorriso do olhar; quer ajudar, soluciona, doa, se dedica, aprende pra ensinar, liga os pontos, conta tudo, guarda pra si; não reclama, dá risada, franze a testa, mexe o nariz, imita bicho, imita vozes, cria personagens loucos, fala besteira, fala sério, interpreta, conta piada, escuta com atenção, dialoga com as mãos, se perde nos “parêntesis” da conversa, cria, inventa teoria, entende o motivo, procura não julgar, não gosta de fofoca; reza, reza pra si e pros outros, todo o dia, em qualquer hora, por muitos motivos, porque confia, porque tem fé; dorme até tarde, telefona, convida, acompanha, serve, jura, carrega no colo, quer colo, faz pirueta, vira cambalhota, é palhaça, faz torcida, joga futebol, participa, emburra, se faz de desentendida, mergulha, tem medo, anseia, fala pelos cotovelos; adora mar, lagartear no sol, correr na areia; come muito, não come, come devagar, bebe refrigerante, não bebe álcool, não fuma, dá exemplo, se preocupa, volta atrás, não dá “o braço a torcer”, argumenta; faz carinho, mima, beija, abraça, faz massagem, morde, aperta, faz cócegas, brinca de lutinha, se deixa vencer; que é o que é, não se finge, é sincera, não gosta de regras, tem vários estilos, tem opinião, é honesta, é fiel, abraça com vontade as pessoas, faz caras e bocas, levanta a sobrancelha, fala corretamente, inventa palavras, fala línguas estranhas, faz barulho; já foi vegetariana, é esotérica, é espírita, consulta oráculo, coloca tarô, coloca runas, tem livros de auto-ajuda; quer ter uma biblioteca...e, dentre tantas outras coisas que me compõem, ainda mais os defeitos (que não nego) tem uma vontade muito grande de ser feliz.

Amor cigano

Eis que colheram os trigos
E minh'alma se revigora
Tantos trancos e (des)barrancos
Que um dia chorei por hora

Porém nem tudo é engano
Mesmo que cause dúvida
Silêncio, pra mim, cigano
É mais que somente culpa

Adivinho os teus encantos
Tenho cá com meus botões
Minha queda por teus braços
Me causa alucinações

Ser tua foi meu desejo
E o tempo foi nosso acerto
Vinde um dia e vindo outro
Meu amor já vale ouro

Mas eis que a dúvida impera
Serei assim tão bela?
Devoto de meu encanto
Poderei causar-te espanto?

Na vida, não sigo rima
Na rua não sigo linhas
No amor não faço jogo
No querer não faço esboços

Perdi tantos passos
Nas escolhas que bem fiz
O passado são só traços
O que tenho, agora, eu sempre quiz.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Eu tornaria...

Tornaria a revolver a terra
Pra um resquício de fel encontrar...
Só pra beirar a tristeza
E para abarcar teu mal

Tornaria a sacudir os lençóis
Pra desnudar as marcas de batom...
Só pra remembrar dos detalhes
De um dia o amor que se foi

Tornaria a trançar os fios da consciência
Pra ruminar nossos desafios...
Só pra colher os frutos maduros
Que nunca poderíamos comer

E desse tornar contínuo e obtuso
Devolver as cartas, os livros, os beijos
Rasgar as palavras ditas, pensadas, recusadas
E, enfim, morrer absolutamente em paz.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Coerência

Coerência meu bem, coerência...
Naquilo que dizes e fazes
Nos sinais que dás e não se dá conta
Enquanto miro-te no espelho
De tuas próprias falhas.

Deixe de lado seu lado impecável
E escolha a aflição da dúvida
A mesmice do ontem não persegue
Quem escolhe correr ansiosamente
Em vez de imóvel olhar o sal secar.

Anda, move-te e sacode a toalha
Não é mais possível pestanejar
As cerejas cairam pelo chão
Quando você me deixou levantar...

Se eu voltasse atrás, você pularia?
Nesse trampolim áspero e frágil
Onde as palavras são um resgate d'alma
E as escolhas um passo a mais, pro mar.

sábado, 13 de junho de 2009

Aprontando

Ela olhou aquele olhar e sacou de cara - hmmm, tá me paquerando o safado!. Enquanto ele, embriagado tanto pelas curvas dela, quanto pela tequila - mal sabia que estava quase gritando o que lhe passava na mente só pela maneira como se comportava na presença da moça de cabelos de fogo e boca de cereja.
- Chegou aqui faz tempo? Disse ela com cara de debochada e beicinho.
- Sim e percebi que você chegou sem sapatos...algum motivo em especial?
- Jogo fora tudo o que me incomoda.
- É um belo modo de se viver...
E o silêncio ali se materializou e permaneceu por longos minutos...até que ele não aguentou:
- Você bebe?
- Não, embriaga a minha loucura.
- Annnh, mas vou pegar mais uma tequila ok?
- Pegue quantas quiser...vou ficar aqui.
Ele levantou e pegou a tequila no balcão, ela ficou olhando ele se movimentar e mirou a bunda dele sem pestanejar. Ele voltou e bebeu a tequila de um só gole.
- Está boa?
- É...eu gosto.
- Deixa eu provar...
Um beijo demorado, com gosto de tequila e um pouco de sal no canto da boca - enquanto os movimentos rápidos dos lábios e línguas fazia o gloss de cereja dela espalhar-se e sumir aos poucos.
- Eu... Ele queria dizer algo mas não coordenava nenhuma palavra com outra subseqüente.
- Preciso ir, tenho um ensaio de fotos amanhã, qual é mesmo seu nome?
- Pedro.
- Hmmm, bonito como você, eu sou Andrea - prazer.
- Pode me deixar ao menos teu número?
- Deixa que te encontro gato. Vou reconhecer esta bundinha de longe! E estou sempre por aqui...busco inspiração para escrever nestes momentos inesperados.
Virou-se e saiu. Ele ficou vendo o vestido azul de seda que mostrava tão bem aquelas curvas saindo pela porta enquanto os pés, bonitos e descalços, transitavam suavemente pelo chão.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um tempo perfeito

Tempo perfeito é o que passa
E por ele atravessamos
Sem que um minuto se ezvaia...

É o tempo que é partido
E por ele transitamos
Sem que algo seja perdido...

É tempo por perfeição
E por ele calculamos
Sem que dure menos a lição...

Não diga, esqueça...
Deixe que desse tempo passado
Seja somente o elo
De toda a nossa espera.